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sábado, 19 de abril de 2014

A CONCEPÇÃO DO INCONCEBÍVEL

Sei que este texto será longo, como longas são as minhas reflexões e algumas angústias. Espero que ele chegue a ser lido na íntegra por todos aqueles que me interessam que leiam, a saber: meus irmãos de lutas e de farda, independentemente de posto, graduação ou patente. Como soldado da Polícia Militar da Bahia, sou consciente também dos riscos que corro ao escrever e publicar estas palavras. Porém, não posso me recusar a expor o que a minha consciência determina, em honra e mérito daqueles que me representaram e que corajosamente expuseram suas carreiras e sua liberdade em defesa de nossa dignidade, respeito e pleitos mais do que justos. Espero, sinceramente, que ele não seja mal interpretado ou classificado a qualquer tipo de incitação, senão a da nossa própria reflexão pessoal.



Ultimamente tenho ouvido e lido muito a palavra “inconcebível”.  Replicando a palavra de um texto do TST em relação ao movimento ocorrido na Polícia Militar da Bahia, em 2012. Pois bem, tentarei listar abaixo o que para mim é “inconcebível”.

É inconcebível que estejamos no ano de 2014 e sejamos regidos ainda por leis antidemocráticas, algumas escritas e aprovadas em pleno regime ditatorial, que não são recepcionadas por nossa Carta Magna de 1988.

É inconcebível que o poder judiciário assista inerte que direitos, garantidos por decisões judiciais, leis estaduais e até federais não sejam regulamentados e cumpridos por nosso poder executivo, em um claro desrespeito as normas jurídicas, éticas e morais que regem nosso país.

É mais inconcebível ainda, quando este mesmo poder, que descumpre diária e constantemente a ordenação jurídica estadual e federal, cobra tão celeremente o cumprimento destas mesmas leis e decisões que se recusa reticentemente a cumprir.

É inconcebível que em pleno estado democrático de direito, cujo um dos pilares é a autonomia dos poderes constituídos, vermos um poder ceder tão rápida e cegamente aos apelos de um outro, enquanto nós, cidadãos comuns, esperamos anos e até décadas por decisões judiciais de análise simples, pondo em dúvida e em posição de descrédito esta mesma autonomia.

É inconcebível que um partido, cuja grande maioria de seus integrantes e dirigentes é oriunda da classe sindical, que comprovada e explicitamente já promoveu e financiou inúmeras paralisações gerais e manifestações reivindicatórias, hoje, no poder, tenha a falta de coerência em solicitar ao judiciário, a ilegalidade destas mesmas manifestações que o destacou e o elevou ao patamar em que se encontra.

É inconcebível que nós, que acreditamos em mudanças e quebra de paradigmas, que apostamos todas as nossas fichas, através de nosso voto, em um partido marginalizado pelo grupo dominante da época, e hoje, bestificados, assistimos todo esse discurso e ideologia virarem fumaça diante de nossos olhos.

Voltando para nossa realidade da caserna e para que este texto não seja interpretado como uma retaliação política.

É inconcebível que mais de dez mil homens e mulheres, pais e mães de família, reunidos em um espaço onde foi deliberada uma greve, greve esta que eu sou testemunha que em nenhum momento era a intenção de suas lideranças, pois sabiam das conseqüências. No entanto, não se furtaram a cumprir o seu papel de representantes da vontade da tropa e honraram a decisão visivelmente unânime dos presentes, sejam os únicos responsabilizados por meramente cumprirem seus papéis de líderes. Não permitamos que isso aconteça. Não vamos coadunar com a execração e marginalização pública destes homens que foram colocados por nós para fazer valer a vontade de todos os que optaram pelo movimento.

É inconcebível que nos rendamos ao discurso fácil das críticas, até mesmo daqueles que sequer deram qualquer contribuição a esta luta. Após longos e desgastantes dias para todos aqueles que participaram direta ou indiretamente deste momento e que de forma incansável tentaram colocar um fim em bons termos para nossa categoria. Mesmo que achemos, erroneamente, muito pouco o que se conquistou. Que apesar das baixas em nosso próprio sangue, o que, aliás, não vamos ser hipócritas, vemos acontecer diariamente com ou sem movimento, é inconcebível, senhoras e senhores, que aceitemos este comportamento.

É inconcebível que muitos daqueles que se beneficiarão por esta luta e por todos os bônus que dela advir. Não assumam também nenhum ônus que advirão para aqueles que se propuseram nos representar. Mesmo que no plano de suas consciências, peço que assumam ao menos parte deste ônus, principalmente no momento em que estiverem no papel de julgar os mesmos responsáveis por seus ganhos. Sejamos coerentes e honrados, como estes homens foram.

É inconcebível que aceitemos passivamente o achaque da mesma mídia que se retro alimenta de nosso trabalho, do sensacionalismo e que transforma em espetáculo a miséria alheia. Alienando, ou ao menos tentando alienar, a tudo e a todos. Que é patrocinada por poderes e poderosos e que tem o claro papel de defender interesses não tão nobres quanto os que estes homens defenderam.

É inconcebível que irmãos e irmãs de farda se confrontem ou se discriminem por uma mera diferença na farda que ostenta, em troca de uma titularidade que não nos pertence, mas que temporariamente nos foi concedida. Porque a farda apenas cobre o homem que a veste, assim como vestir um hábito não lhe faz um monge.

Mas também não posso deixar de declarar que é inconcebível que deixemos os nossos irmãos órfãos no campo de batalha, por que as beneficies serão pra todos e não apenas para os que se expõem. Espero que um dia todos nós tomemos consciência disso, talvez um dia em que a competição dê mais lugar ao apoio mútuo. Mas penso que cada um sabe de suas limitações e impedimentos. Não me sinto no direito de cobrar, discriminar ou digladiar com meus irmãos por qualquer que seja o motivo. Nem tão pouco delego a ninguém este poder. Afinal, somos membros de um só corpo.

Para finalizar esta “pequena” reflexão deixo aqui minhas sinceras continências e honrarias aos grandes homens e mulheres que tentam arduamente mudar nossa realidade, mesmo contra todas as adversidades, o que eles querem é dinamizar, atualizar e modernizar as leis que nos regem, porque citando Santo Agostinho: “Uma lei injusta não é uma lei”. Que Deus nos abençoe.

Sd PM Jorge na íntegra por todos aqueles que me interessam que leiam, a saber: meus irmãos de lutas e de farda, independentemente de posto, graduação ou patente. Como soldado da Polícia Militar da Bahia, sou consciente também dos riscos que corro ao escrever e publicar estas palavras. Porém, não posso me recusar a expor o que a minha consciência determina, em honra e mérito daqueles que me representaram e que corajosamente expuseram suas carreiras e sua liberdade em defesa de nossa dignidade, respeito e pleitos mais do que justos. Espero, sinceramente, que ele não seja mal interpretado ou classificado a qualquer tipo de incitação, senão a da nossa própria reflexão pessoal.

Ultimamente tenho ouvido e lido muito a palavra “inconcebível”.  Replicando a palavra de um texto do TST em relação ao movimento ocorrido na Polícia Militar da Bahia, em 2012. Pois bem, tentarei listar abaixo o que para mim é “inconcebível”.

É inconcebível que estejamos no ano de 2014 e sejamos regidos ainda por leis antidemocráticas, algumas escritas e aprovadas em pleno regime ditatorial, que não são recepcionadas por nossa Carta Magna de 1988.

É inconcebível que o poder judiciário assista inerte que direitos, garantidos por decisões judiciais, leis estaduais e até federais não sejam regulamentados e cumpridos por nosso poder executivo, em um claro desrespeito as normas jurídicas, éticas e morais que regem nosso país.

É mais inconcebível ainda, quando este mesmo poder, que descumpre diária e constantemente a ordenação jurídica estadual e federal, cobra tão celeremente o cumprimento destas mesmas leis e decisões que se recusa reticentemente a cumprir.

É inconcebível que em pleno estado democrático de direito, cujo um dos pilares é a autonomia dos poderes constituídos, vermos um poder ceder tão rápida e cegamente aos apelos de um outro, enquanto nós, cidadãos comuns, esperamos anos e até décadas por decisões judiciais de análise simples, pondo em dúvida e em posição de descrédito esta mesma autonomia.

É inconcebível que um partido, cuja grande maioria de seus integrantes e dirigentes é oriunda da classe sindical, que comprovada e explicitamente já promoveu e financiou inúmeras paralisações gerais e manifestações reivindicatórias, hoje, no poder, tenha a falta de coerência em solicitar ao judiciário, a ilegalidade destas mesmas manifestações que o destacou e o elevou ao patamar em que se encontra.

É inconcebível que nós, que acreditamos em mudanças e quebra de paradigmas, que apostamos todas as nossas fichas, através de nosso voto, em um partido marginalizado pelo grupo dominante da época, e hoje, bestificados, assistimos todo esse discurso e ideologia virarem fumaça diante de nossos olhos.

Voltando para nossa realidade da caserna e para que este texto não seja interpretado como uma retaliação política.

É inconcebível que mais de dez mil homens e mulheres, pais e mães de família, reunidos em um espaço onde foi deliberada uma greve, greve esta que eu sou testemunha que em nenhum momento era a intenção de suas lideranças, pois sabiam das conseqüências. No entanto, não se furtaram a cumprir o seu papel de representantes da vontade da tropa e honraram a decisão visivelmente unânime dos presentes, sejam os únicos responsabilizados por meramente cumprirem seus papéis de líderes. Não permitamos que isso aconteça. Não vamos coadunar com a execração e marginalização pública destes homens que foram colocados por nós para fazer valer a vontade de todos os que optaram pelo movimento.

É inconcebível que nos rendamos ao discurso fácil das críticas, até mesmo daqueles que sequer deram qualquer contribuição a esta luta. Após longos e desgastantes dias para todos aqueles que participaram direta ou indiretamente deste momento e que de forma incansável tentaram colocar um fim em bons termos para nossa categoria. Mesmo que achemos, erroneamente, muito pouco o que se conquistou. Que apesar das baixas em nosso próprio sangue, o que, aliás, não vamos ser hipócritas, vemos acontecer diariamente com ou sem movimento, é inconcebível, senhoras e senhores, que aceitemos este comportamento.

É inconcebível que muitos daqueles que se beneficiarão por esta luta e por todos os bônus que dela advir. Não assumam também nenhum ônus que advirão para aqueles que se propuseram nos representar. Mesmo que no plano de suas consciências, peço que assumam ao menos parte deste ônus, principalmente no momento em que estiverem no papel de julgar os mesmos responsáveis por seus ganhos. Sejamos coerentes e honrados, como estes homens foram.

É inconcebível que aceitemos passivamente o achaque da mesma mídia que se retro alimenta de nosso trabalho, do sensacionalismo e que transforma em espetáculo a miséria alheia. Alienando, ou ao menos tentando alienar, a tudo e a todos. Que é patrocinada por poderes e poderosos e que tem o claro papel de defender interesses não tão nobres quanto os que estes homens defenderam.

É inconcebível que irmãos e irmãs de farda se confrontem ou se discriminem por uma mera diferença na farda que ostenta, em troca de uma titularidade que não nos pertence, mas que temporariamente nos foi concedida. Porque a farda apenas cobre o homem que a veste, assim como vestir um hábito não lhe faz um monge.

Mas também não posso deixar de declarar que é inconcebível que deixemos os nossos irmãos órfãos no campo de batalha, por que as beneficies serão pra todos e não apenas para os que se expõem. Espero que um dia todos nós tomemos consciência disso, talvez um dia em que a competição dê mais lugar ao apoio mútuo. Mas penso que cada um sabe de suas limitações e impedimentos. Não me sinto no direito de cobrar, discriminar ou digladiar com meus irmãos por qualquer que seja o motivo. Nem tão pouco delego a ninguém este poder. Afinal, somos membros de um só corpo.

Para finalizar esta “pequena” reflexão deixo aqui minhas sinceras continências e honrarias aos grandes homens e mulheres que tentam arduamente mudar nossa realidade, mesmo contra todas as adversidades, o que eles querem é dinamizar, atualizar e modernizar as leis que nos regem, porque citando Santo Agostinho: “Uma lei injusta não é uma lei”. Que Deus nos abençoe.

Sd PM Jorge

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