Bom dia Dra. Lívia Natália!
Primeiramente quero parabenizá-la pelo seu currículo. Não conheço a sua história de vida, mas como negro e pobre que sou, sei das grandes dificuldades que enfrentamos para chegar a vosso nível de instrução, conhecimento e destaque, nessa sociedade capitalista onde a discriminação tem raízes profundas.
Fico muito feliz quando vejo um afrodescendente, como eu, falar com propriedade em seminários, simpósios, nos auditórios dos centros de construção de conhecimento, a exemplo das faculdades ou em programas de cunho educativo e cultural nas redes de televisao, por exemplo. Isso deixa minha alma maravilhada, principalmente por saber, do nível de exploração e, volto a dizer, DESCRIMINAÇÃO ao qual nosso povo sempre esteve, e ainda continua, mergulhada. Não quero tratar de história brasileira, pois tenho certeza que é de vosso domínio, o que se torna desnecessário.
Sou um admirador da arte, e como admirador que sou, não poderia deixar passar a oportunidade de dizer da inquietação provocada em minha alma ao ler a sua obra "Quadrilha!", principalmente por conhecer os dois lados dessa moeda.
A história fala por si só a quem por interesse tirou as vendas de seus próprios olhos. O mergulhar no conhecimento torna o homem livre!
Porém há um lado dessa moeda que quero que tome conhecimento...
Há muito tempo sofro discriminação. Há 32 anos pra ser mais exato, meus 32 anos de existência. Por ser negro, pobre, e ser de família de um nível de conhecimento não invejado por muitos, o que nunca foi motivo de lamentação ou infelicidade, ao contrario, Essa sempre foi a mola propulsora de minha RESISTÊNCIA!
Hoje aos 32! Anos continuo sentindo na pele as dores da DISCRIMINACAO racial, ainda que de forma disfarçada. Porém o que me causa maior indignação é ser hoje, submetido há uma DISCRIMINAÇÃO por meu próprio povo! Negros que como eu se orgulham da luta de nossa descendência, cito: ZUMBI, pela coragem com que tanto lutou pela nossa LIBERDADE. Hoje parte de meu proprio povo me DISCRIMINA.
A sociedade tem evoluido em níveis de conhecimento, e a Polícia a qual a Senhora chama em sua obra de ASSASSINA, vem acompanhando essa evolução. Não sei se, o desenvolvimento em termos de conhecimento e libertação do nosso povo negro causa na Senhora Doutora, o mesmo nível de felicidade que provoca em mim.
Hoje é preciso refazer a letra da música que chama o Soldado de "cabeça de papelão". Nesse momento, em que escrevo essas linhas, o meu ser se alegra por mostrar uma realidade a qual talvez, a Senhora desconheça. Nós Soldados de Polícia estamos evoluindo em passos gigantestos em niveis de conhecimento, a maior parte de meus colegas tem nível superior de ensino e muitos ainda continuam sentados nesses bancos de desenvolvimento do senso crítico e desenvolvimento do sabe, a exemplo desse humilde ser que lhe dirige essas palavras.
Eu amo defender meu povo, amo defender o meu estado, amo defender a minha nação. EU NÃO SOU ASSASSINO!
Trabalhamos muito, damos nossas vidas por vossas vidas, e sinceramente não queria esse pagamento como retribuição de tanta dedicação na defesa de sua vida inclusive.
Defeitos? sim temos, afinal somos seres humanos. Erramos? sim erramos. Assim como erra o médico, que dedica longos anos de sua vida aos estudos, mas... erra! SOMOS SERES HUMANOS. E por ser ser humano... erram os advogados, os juízes, os professores... mas diante de tantas vidas salvas, diante de tantos serviços prestados, não podemos deixar que apenas sejam destacados, alguns erros pontuais.
Seria muita infelicidade minha dizer que a educação não presta em função de um ou outro professor que não se dedica ao seu mister ou por deficiência de sua formação. Da mesma forma não posso aceitar esse discurso generalizador, que apenas serve para denegrir a imagem dos profissionais de tanta importância para a segurança pública, O POLICIAL.
Precisamos melhorar sim! Mas diante das condições de trabalho que somos submetidos, ao nível salarial e a formação, posso lhe dizer com muita convicção, somos heróis!
Ao sairmos de casa, beijar nossos filhos, esposas ou esposos, levamos conosco o desejo de bem servir.
infelizmente os verdadeiros assassinos se tornaram vítimas.
A Senhora sabe quantos colegas, pais de família vi ser ASSASINADOS? não, A Senhora não sabe. Quero lhe dizer que esses colegas foram ASSASSINADOS apenas por ter escolhido defendê-la e a memória desses mortos não pode ser maculada.
Ah! Não precisa ter medo dessa farda, pois somos pais de família e trabalhamos para protegê-la e não o contrário. Tenha um bom dia na santa paz do Senhor Deus dos Exércitos.
Sou negro, sou PM com muito orgulho!
Testo WHATSAPP
Só podia ser da UFBA. Ela é colega de Dulce Aquino.
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