Denúncia da Alba: PM acusa Nilo e aponta desvio de funções na Casa Legislativa

Policiais militares exercem outra função, cujo custo da atividade é pago com dinheiro público. Entre estas funções exercidas pelos PMs estão as de secretários de gabinetes, motoristas e seguranças particulares. Esta é uma denúncia que parte de um dos PMs que trabalhava na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), o sub-tenente Evaldo Silva. Munido de documentos, Silva entregou na redação do site Bocão News o que considera serem as provas que põe em xeque as atividades dos policiais na Casa Legislativa que, segundo ele, "deveriam proteger o patrimômio público".

De acordo com Silva, há 63 policiais que constam na lista dos que trabalham na Alba. "Lá a escala é de 24h e 48h. Há o grupo de Guarda e são quatro. Cada dia um grupo trabalha. A Alba, a partir de 18h, é de responsablidade da Guarda. Fazemos a segurança do patrimônio porque este é nosso serviço normal e é o que temos que fazer. Atuamos no Tribunal de Justiça, Governadoria, SSP. Temos uma boa estrutura. Hoje temos dois homens em cada posto", explicou.

Mas, de acordo com o sub-tenente - que já tinha 6 anos de Assembleia - dos 63 PMs, "apenas 28 cumprem rigorosamente a escala. Os demais são desvios de função", afirma. Indo mais além, Evaldo ainda ressalta que há dois policiais 'fantasmas'. "Não sabemos quem são eles. Os nomes constam na lista, mas eles não existem. Nunca os vimos", pontua, apresentando o contra-cheque destes servidores (ver abaixo). "Eu fazia parte dos que chamamos de baixo clero. Recebemos a gratificação e cumprimos rigorasamente 199h a 210h mensais de trabalho", explicou.

Contra-cheques dos ditos 'fantasmas''

Em outro documento apresentado pelo denunciante é possível ver uma lista onde constam os nomes de alguns parlamentares que estariam utilizando policiais em outras funções. "42 policiais não prestam o serviço que deveriam prestar", garantiu, já exemplificando. Conforme o sub-tenente, "somente o presidente Marcelo Nilo possui nove seguranças. No caso dele não é nem desvio, é excesso". O PM ainda acrescenta que desvio maior é feito quando é "feriadão e meses de janeiro e fevereiro que três policiais saem da guarda e vão pernoitar na casa de praia do presidente", garante, mostrando a escala especial onde é dito o destino dos polciiais. (ver documento abaixo).

Abaixo seguem os exemplos que constam na lista apresentada por Silva considerados por ele como desvio de função:

Policiais e áreas ditas como desvio de função>>
1 na área Financeira
1 na Presidência
1 na área da Saúde
1 fantasma
1 no setor de Transparência
3 capitães
1 com deputado Coronel Gilberto Santana - trabalha no gabinete
1 com deputado Carlos Gaban               - TRABALHA COMO SEGURANÇA PARTICULAR
1 com deputado Ângelo Coronel           - TRABALHA NO GABINETE
1 com deputado Elmar Nascimento       - TRABALHA COMO MOTORISTA
1 com deputado José de Arimateia       - TRABALHA NO GABINETE
1 com deputado Reinaldo Braga            - TRABALHA COMO SEGURANÇA PARTICULAR
1 com Maria Luiza                                  - TRABALHA COMO MOTORISTA


Outra denúncia apontada pelo sub-tenente Evaldo Silva recai sobre o servidor público Yuri Pierre Sampaio Lopes. "Ele é coronel e assume duas funções. A de chefe de gabinete da presidência e a de assistente da Casa Militar. Como militar ele não pode exercer estas duas funções", afirmou. O Bocão News constatou que Yuri Pierre fora exonerado de chefe de gabinete em 2011 para assistente militar, conforme registrado no Diário Oficial (Ver documento). "Mas, até hoje ele está no gabinete e todos sabem disso", reforçou Silva.

Informação sobre exoneração de Yuri Pierre

Quando questionado porque saiu da Assembleia Legislativa, Silva afirma que foi colocado para fora "porque estava brigando já, lutando pelos meus direitos. Aí, eles tiram. Abri mão da minha gratificação de R$ 3 mil porque não concordava mais com o que considero errado. Aí fui mandado novamente para o Comando", disse.

Porém, o presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, Marcelo Nilo, em contato com o site Bocão News rebateu todas as acusações e afirma que "ele está ressentido (referindo-se ao sub-tenente Evaldo Silva). A verdade é que ele só queria viajar pelo interior ao invés de cumprir o trabalho dele na Alba. Aí devolvi para o Comando Militar", explicou Nilo, informando que Silva pediu para ficar. "Ele fazia política, planfetagem. Não sou contra, acho até normal, mas tem que cumprir o papel. Ele estava fazendo corpo mole, sem querer trabalhar", ressaltou o presidente, que disse ter devolvido Silva há 10 dias atrás. De acordo com Nilo, "miliares são para segurança do presidente e da presidência", explicou, negando ter a quantidade de seguranças citadas pelo denunciante. "Nove não. De jeito nenhum. Eles trabalham de plantão. Não sei quantos são. E não posso andar sem segurança. Eu sou obrigado a andar com segurança", afirmou.

Sobre as denúncias de 'excesso de seguranças' e desvio de funções, Nilo foi taxativo: "É mentira. Isso não existe na Assembelia Legislativa. Todos estão na função devida. Tenho segurança sim porque tenho direito. Quando vou para Guarajuba levo um segurança comigo. Onde eu vou o segurança precisa ir. A norma da ALBA dá direito de segurança para o presidente. Como presidente do poder tenho obrigação de ter segurança. Aliás, ele (referindo-se novamente a Silva) estava doido para ser meu segurança e eu é que não quis", alfinetou Nilo.

Sobre os parlamentares citados, o presidente afirmou que ex-presidentes têm o direito pela norma da Casa Legislativa em terem segurança. "Zé de Arimateia não tem nenhum segurança. Quem tem um e que vale pelo regimento e pela resolução são o presidente e ex-presiedente que têm direito, como no caso de Ângelo e Gaban (ex-presidentes)", afirmou. 

Já sobre o Coronel Yuri - dito pelo sub-tenente como sendo chefe de gabinete - Nilo nega. "Ele é chefe da Casa Militar, chefe da Assistência Militar e não meu chefe de gabinete. Todos estão na função devida", reforçou.

As denúncias apresentadas ao site Bocão News foram protocoladas e entregues ao Ministério Público - Veja o documento na íntegra 

Bocão News