Em um texto que eu li recentemente na Carta Capital, revi uma frase de Karl Marx: “A história acontece como tragédia e depois se repete como farsa”. No texto fizeram-se duras críticas a reedição da famosa ”Marcha da Família”, reedição essa que, aliás, foi um verdadeiro fiasco, graças a Deus. A tal marcha, assim como a dos ido de 64, defendia a possibilidade de uma intervenção militar no país. Apesar de ser um militar, sou totalmente contra.
Parafraseando Einstein, a definição da loucura é tentar resultados diferentes, fazendo tudo sempre da mesma forma. Tenho lido alguns comentários aqui e acolá a respeito de uma possível intervenção militar no país. Alguns coros, talvez ignorantes (outros nem tanto), sobre o retorno da ditadura ou, ao menos, da “ditabranda”. Talvez, este discurso só ganhe adeptos, graças ao sucateamento de nossa educação pública e a alienação das massas, promovida pelos meios de comunicação.
A verdade é que a esquerda praticamente morreu neste país e a direita, muitas vezes, não passa de um bando de inconformados com a recente perda do poder e que torce, independente do sofrimento alheio, pra que tudo dê errado. Neste “balaio de gato” político nos restou a forte sensação de que algo precisa mudar, radicalmente. Justamente aí que mora o perigo. Este forte sentimento da necessidade de mudança, mal canalizado, pode fazer com que estejamos abertos a idéias esdrúxulas e, por que não dizer, discursos inescrupulosos.
Os generais de pijama logo se assanharam diante deste cenário. Propício ao discurso saudosista. É a volta dos que não foram, ao contrário, ficaram por aí, a espreita, semeando ventos para colher tempestades, vendendo dificuldades para comprar facilidades. No olho do furacão, ficamos nós, a população, o povo brasileiro, alguns com saudades do que sequer viveram e que, eventualmente, não nos foi demonstrado com clareza nos ensinamentos sobre a história oficial de nosso país.
Não vivi os anos de chumbo e, pelo que li e ouvi, nunca quero viver. Sei também que a democracia não é fácil, aliás, quem disse que era? Prefiro milhões de vezes o direito de me contradizer, do que a obrigação, imposta por lei, de me calar. Isso, só pra começo de conversa. Nem vou falar aqui sobre a institucionalização da tortura e outros bichos.
O grande problema da democracia em um país carente de educação, como o nosso, é que nos obriga a assumir responsabilidades e o resultado de nossas escolhas. Nosso povo está mal acostumado a não ter senso crítico. Às vezes, também é totalmente desprovido de recursos culturais e históricos para tê-lo. Por isso é tão fácil, demonizar ou santificar alguém ou algo aqui no Brasil. A maioria diz amém. Incapaz ou com preguiça de fazer uma análise crítica sobre fatos ou pessoas, somos os verdadeiros “papagaios de pirata”, repetindo orações em latim, como numa missa a moda antiga.
Estamos mal acostumados a seguir um líder, a polarizar tudo, como se a vida fosse um clássico de futebol: ou torcemos para o time “A” ou para o time “B”. A questão é que a democracia nos força a tirar o que há de melhor no time “A” e no time “B”, não estamos acostumados a isso. Diga-se de passagem, por isso que as novelas fazem tanto sucesso no Brasil, lá fica claro quem são os bandidos e os vilões. O problema é que a vida não é uma novela, tão pouco a democracia. Faço aqui uma mea culpa, muitas vezes polarizei questões e ainda, infelizmente, polarizo.
Pior, que nesse terreno fértil acabamos dando espaço para os “revolucionários do velho”, para o que Cazuza chamou de “o grande museu de novidades”. Um velho com uma roupa nova, continua sendo um velho.
Estou longe de ter a fórmula da sociedade perfeita, aliás, creio que ninguém a tem, mas já seria um bom começo se aprendêssemos a nos manifestar, pacificamente é claro, reaprendamos a ir para as ruas, exigir nossos direitos vilipendiados dia após dia. Leis, já temos, até demais em alguns casos, reformulemos as antigas, as ultrapassadas. Vamos rediscutir a educação e a saúde pública.
Afinal a quem interessa uma nação sem cultura? A quem interessa uma saúde precária? Somente aos políticos inescrupulosos e aos planos de saúde. Vamos reconstruir nossas polícias, desmilitarizando e unificando o sistema de segurança pública, só pra começar, porque é entendimento pacífico que uma polícia urbana militarizada não combina com o estado democrático de direito, além do mais, precisamos assumir que este sistema de segurança arcaico não funciona mais, em conseqüência da dinamização da sociedade e organização atual da criminalidade. Sem uma polícia unificada, jamais iremos fazer frente aos novos desafios da segurança pública.
Vamos cobrar mais, muito mais, investimentos no social, porque a polícia sozinha não resolve nada, apenas reprime e enxuga gelo. Vamos dizer não a projetos meramente assistencialistas e eleitoreiros, vamos deixar de dar esmolas e ensinar a pescar o peixe, porque o povo precisa é de dignidade, de respeito e não de esmolas. Vamos brigar pela redução de impostos, através da reforma fiscal, que entra governo e sai governo e nenhum faz. Precisamos mudar de fato, mas a palavra mudança nos remete ao novo, ao invés de tentarmos reinventar ou ressuscitar o velho.
Sd PMBA Jorge Costa
Diretor de Comunicação da ASPRA Bahia
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