Nas organizações militares, onde hierarquia e disciplina, são pilares básicos da manutenção de respeito e ordem, não se pode esquecer de que o detentor do cargo de comandante, seja qual for o seu grau, sempre haverá almas sob seu cargo, respondendo estes pela boa ou má gestão que dê aos seus subordinados, recaindo sobre ele as faltas que cometa, as mazelas arrastados em razão desse comando ou dos maus exemplos. Assim angariar-se-ão os resultados da forma como aplicar suas decisões para lhes dirigir aos caminhos da razão, uma vez que todo homem tem, neste Orbe, uma missão, seja ela de qualquer nível de importância ou natureza, sempre lhe é confiada para o bem. Dissimulá-la em sua essência, significa a falência ao seu cumprimento.
Para Alan Kardec, no Evangelho Segundo O Espiritismo, Cap XVII, p. 293:
“A autoridade, tanto quanto a riqueza, é uma delegação de que terá de prestar contas aquele que se ache dela investido. Não julgueis que lhe seja ela conferida para lhe proporcionar o vão prazer de mandar; nem, conforme o supõe a maioria dos potentados da Terra, como um direito, uma propriedade. Deus, aliás, lhes prova constantemente que não é nem uma nem outra coisa, pois que deles a retira quando lhe apraz. Se fosse um privilégio inerente às suas personalidades, seria inalienável. A ninguém cabe dizer que uma coisa lhe pertence, quando lhe pode ser tirada sem seu consentimento. Deus confere a autoridade a título de missão, ou de prova, quando o entende, e a retira quando julga conveniente”.
Da mesma forma que se inquire ao rico: "Que fizeste da riqueza que nas tuas mãos devera ser um manancial a espalhar a fecundidade ao teu derredor", Deus perguntará aos que sejam detentores do cargo de comandante: "Que uso fizeste dessa autoridade? Que males evitaste? Que progresso facultaste? Se te dei subordinados, não foi para que os fizesses escravos da tua vontade, nem instrumentos dóceis aos teus caprichos ou à tua cupidez; fiz-te forte e confiei-te os que eram fracos, para que os amparasses e ajudasses a subir ao meu seio."
O comandante, consciente dos ensinamentos do Messias, jamais abandona, ou menospreza sua tropa, pois entende que as diferenças sociais não têm relevância para Deus. “Comandar é tão nobre quanto obedecer” e o Espiritismo nos mostra que nesta vida ou através da pluralidade das existências, ou seja, quem já comandou também poderá ser comandado, e então poderá receber o tratamento de acordo como quando exercia seu encargo.
De outra banda, não olvidemos que se o comandante tem obrigações a cumprir, o comandado, por seu turno, também os tem e não menos imprescindíveis. Se for espírita, sua consciência ainda mais imperiosamente lhe dirá que não se pode considerar dispensado de cumpri-los, nem mesmo quando o seu comandante se omita de fazê-lo em auxilio aos que lhe correm, pois não é justo retribuir o mal com o mal, e que os erros de uns não justificam os de outrem. Se essa condição de comandante lhe traz sofrimentos, aceite que tal acontece de acordo com o seu grau de merecimento, indubitavelmente e provavelmente, exacerbou do uso, no passado dessa autoridade, cabendo-lhe, portanto, experimentar, desta feita, que suas ações trouxeram conseqüências danosas aos outros. Se agora tem, compulsoriamente, de suportar o cargo de comandante, por questões de não poder exercer outro ofício diferente, ou que julgues melhor, então o Espiritismo poderá lhe mostrar o caminho da resignação, prova constitutiva de sua humildade, essencial ao seu adiantamento. A fé será a bússola de conduta, para guiá-lo ao procedimento de como desejaria que seus comandados agissem em relação a você. Por motivos de escrúpulos, deve se evidenciar no cumprimento de suas missões, a compreensão de que qualquer falha no trabalho que lhe está determinado culmina em perdas para aqueles de onde se origina a remuneração através dos impostos pagos e a quem se destina o seu tempo e os esforços para o cumprimento da sua missão. Em outras palavras, há que se provocar a reflexão do sentimento do dever, fruto da sua fé, e a convicção de que todo desvio da retidão resulta em débito que, cediço ou tardio, implicará em ressarcimento.
Jorge Ubirajara Pedreira