Translate

“Paz no coração, sem drogas, sem canhão”

 No dia 29 de marco de 2011, a Cidade do Salvador fez 462 anos. Muitos falaram da nossa terrinha boa, alegre, azeitada e hospedeira. Mas vou escrever um pouco sobre a Chapada do Nordeste de Amaralina, local onde passei essa data natalícia para todos os soteropolitanos e os últimos dias em virtude dessa grande operação que a Polícia Militar da Bahia vem fazendo lá dentro.

Muita gente de Salvador nem sabe onde fica este local  e muitos outros que sabem têm medo de entrar. O lugar é cortado de altos e baixos, becos apertados e vielas irregulares e muita gente andando de um lado a outro. A presença do Negro aqui é marcante! O local é bem maior que o bairro da Liberdade e segundo os últimos dados que busquei na 40ª Cia Independente da PM, que tem a responsabilidade pela área, chega a ter mais de 100 mil habitantes.
            
Ali não é um bairro único, mas três ou quatro juntos. O Nordeste de Amaralina que tem vista privilegiada para o Oceano, o Vale das Pedrinhas que é um verdadeiro vale, o Alto da Chapada do Rio Vermelho e a Santa Cruz. Existem três pontos finais de ônibus, e por sinal o da Santa Cruz é um desorganização total, com ônibus estacionados no passeio, no contra-fluxo e por ai vai! A grande área está cercada de outros bairros de maior poder econômico, que são os da Pituba, Itaigara, Parque da Cidade, Rio Vermelho, Amaralina, e o Horto de Brotas que fica perto da Chapada.
            
Ao amanhecer lá dentro, sentimos logo o cheiro forte do café novo, aromatizando as ruas. Depois são as pessoas que começam a sair dos muitos becos estreitos e das ruas para o trabalho. Ao proceder às abordagens policiais, claro que muitas marmitas quentes foram encontradas dentro das sacolas, junto com uniformes e roupas de trabalho, fora as colheres de pedreiros, martelos e outros instrumentos que fazem parte da vida de qualquer trabalhador. Gente de paletó vi umas três, mas com o Livro da Palavra debaixo do braço.  Um jovem de uns 15 anos passou com um violão ensacado nas costas, disse-me que ia a outro bairro ter aula de música. Bem que uma boa escola gratuita de música para os jovens faria bem! Tem um bom exemplo desse projeto na Suburbana onde tocam música clássica.
             
O sol esquenta as ruas e os participantes do “sindicato” começam a passar. Esses são muitos! Não é bem um sindicato como todos conhecem que estão para defender a sua profissão, mas é a turma da branquinha, da folha-podre, da destilada. Muitos sem camisa, unhas enormes e sujas; roupas de ontem, barba grande, halitose pesada, uma baga de cigarro fumado entre os dedos, lá vão eles. Direto aos estabelecimentos. Alguns cantam, dão “bom dia”, mas vão e voltam outras vezes.  Uns dois até param, prestam continência e falam algo sobre a segurança no local e depois dizem que foram policiais, estão aposentados e que os “caras” não mexem com eles. Uma lástima a situação da maioria! Vegetando com o vício! Em todos os pontos do local, observamos pessoas bêbadas todos os dias! É uma outra turma que precisa ser tratada no local!
            
 A presença de muitos negros naquela área sinaliza que no passado, havia uma grande comunidade negra instalada ali. Talvez até uma fazenda ou um quilombo! Soube também que no passado havia uma grande colônia de pescadores, pois a praia de Amaralina fica bem perto do local.
              
A forma como muitos se vestem também é interessante. Muitas meninas com os pés descalços e com roupas de malhas bem justas, decotando as suas partes intimas!  Muitos homens andam sem camisas pelas ruas, jogando dominó e cartas. Vi mulheres com roupa de dormir nas portas das suas casas ao amanhecer, com os cabelos sem ver uma escova. Os motociclistas não usam capacetes, pois segundo eles os criminosos proibiam o uso do equipamento, com medo dos policiais e inimigos de outros bandos  tomarem os seus pontos de venda de drogas.
            
A coleta de lixo não é regular e por isso, muitos moradores passam segurando seus pacotinhos de detritos domésticos nos dedos. O acúmulo de material reciclado em sacos grandes é enorme! Outros varrem suas portas diariamente. O cheiro forte de urina sobe pelos cantos da noite que passou. O asfalto é muito irregular, muitos buracos e também odor intenso do esgoto sobe com o calor do sol. Aquele carro da Prefeitura que lava a Orla, nem pensa em passar por lá.
            
Cachorro solto é mato! São muitos, sem donos, vagando de um lado a outro, procurando comida, brigam e sujam as ruas. Verdadeiros vetores de doenças. Não sei quem está na pior situação na Chapada, se os do “Sindicato” que citei lá no alto ou se os cães! Boa parte das casas não tem reboco, mas tem gradil de ferro. Até um grande cantor de música negra que já encantou vários momentos de festas na nossa terra vive enjaulado! É terrível!
            
Há muitas ruas com os esgotos a céu aberto.  Os canos aparecem por toda parte. O comércio é forte, com muitos mercadinhos, açougues, quitandas, casas que vendem frutas, verduras, farinhas e folhas para banho. Não têm lotéricas nem bancos, claro! Óbvio que o motivo é a violência que estava instalada ali. Mas jogo de bicho tem muito em muitas partes.
           
Essa parte da cidade do Salvador sempre teve uma fama de ser violenta. Muitos marginais procuraram se instar, em virtude do dificílimo acesso das viaturas policiais, dos muitos becos, vários acessos para uma fuga rápida e pela imposição do tráfico contra a sociedade local. 
         
É um bairro muito acidentado, com uma grande ausência do poder público. Só com as Instituições Policias não resolverá o problema da Chapada. Nos Colégios e postos médicos do município, não vi a Guarda Municipal.
          
Ali, infelizmente policiais já foram baleados e mortos na área da 40ª CIPM/Nordeste de Amaralina. Foi lá que em fevereiro de 2011 um Sargento da Rondesp-Atlântico tomou um tiro no peito esquerdo, mas Graças ao Bom Deus, o tiro pegou no colete e a lesão foi só o impacto. O atirador apareceu do nada entre crianças que brincavam na rua e sumiu como um vento rápido. A mesma sorte não teve outro colega PM do Iguatemi, que tomou um tiro no olho e ainda está no HGE se recuperando, porém cego de um olho.  Esse o meliante atirou no pára-brisa dianteiro da viatura. Várias viaturas da PM foram alvejadas pelos meliantes. Que me deixem perguntar, alguma entidade ligada aos Direitos Humanos, ONG’s que protegem vidas, cães e animais silvestres foram visitar o PM no HGE?  Alguém que teve os muitos votos na Chapada e se elegeu por lá, foi lá visitá-lo? Se a resposta sua é não, estão você acertou! Fora os da Casa e os familiares, mas ninguém. 
          
Hoje, duas semanas depois das nossas ações, voltamos a ouvir a comunidade falar: Graças a Deus vocês voltaram – Não pode sair mais – Parabéns – Obrigado – e outras manifestações de carinho com as polícias Civil e Militar. Fora as manifestações pelo telefone do disque-denúncia (3235 0000), que tem  recebido informações dos meliantes que ainda estão por lá ou fugiram para outros bairros.
          
Pois é isso que todos nós precisamos! Que a comunidade sempre nos ajude a combater esse grande mal que atinge toda sociedade baiana. A violência! E que os nossos Governantes, Parlamentares, autoridades sempre nos ajudem a manter essa paz não só na Chapada, mas em toda Bahia, pois não combateremos esse inimigo somente com as armas, pois todos querem mais Políticas Públicas ativas e constantes. 
          
Parabéns a todos policiais militares e civis que permanecem lá dentro, sentido o cheiro do café matinal, o canto do galo e a sensação – continuada! -  de dever cumprido.
          
Olhem! Aquela frase lá no alto é um dos muitos escritos nos muros da Chapada do Nordeste de Amaralina. 
          Que assim seja!

                 Cmt. Rndesp - Atlântico, Major Valter Souza Menezes
                    




Nenhum comentário:

Postar um comentário