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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Linguagem, Escola e Poder

A escola perdeu, já há muito tempo, a capacidade, e mesmo o compromisso, de ensinar seus jovens a ler, interpretar e a interferir no mundo. Aos estudantes cabe apenas a mera decodificando textos, o entusiasmo superficial pelas palavras de efeito, respondendo ao que é pré-estabelecido, sem desenvolver maior compreensão sobre os mesmos, sem ambições interventivas, desprovidos da necessária habilidade para a crítica.
Uma das consequências desta apatia generalizada perante a leitura, é o surgimento de indivíduos que, longe de serem cidadãos atuantes e questionadores, aceitam a tudo que veem escrito nas páginas sujas de um jornaleco sensacionalista qualquer, a tudo que lhes chegam nas belas e coloridas imagens da TV, sem qualquer autonomia diante dos textos ou destas imagens, na coadjuvancia da leitura.
O ocorrido no Brasil durante o Regime Militar ilustra bem a ação da imprensa a desfavor do mais fraco, da inteligência, daquele que vai perder. Enquanto os que lutavam pelos direitos individuais da população eram torturados, humilhados e assassinados, a grande mídia, encabeçada pela Rede Globo e pela Folha de São Paulo, empurrava “goela abaixo” a Copa do Mundo de Futebol, o novo vinil do menino Roberto Carlos (um dos queridinhos do Regime), o seu convite à rua para a torcida. A este respeito, lembram-nos os Marinhos de brindarem champagne em agradecimento aos militares pelas suas concessões de sinal de transmissão, souvenir mantido até hoje.
 Sem apoio do Estado, sem força de atuação, sem prestígio junto à comunidade e sempre uma das mais acusadas pela má formação dos cidadãos, a Escola veio sobrevivendo neste contexto, como um doente agonizante; nunca esteve tão distante do seu papel educativo constitucional; furtaram-lhe o lugar, retirando-lhe a capacidade de manutenção, o seu status, o seu baluarte. Isto ocorre quando se permite a depredação, a implementação de uma politica de aprovação em massa, ao imporem  o vilipêndio de seus melhores profissionais, ao colocarem no mesmo bojo o competente-empressário-da-educação-superior e a antiga (e antes, inabalável) “universalidade” do conhecimento adquirido nos bancos acadêmicos.
Ao professor, resta-lhe o guarda-pó há tempos no armário, o salário baixíssimo, a aula locomotiva de “façam seu curso superior em apenas um ano e meio”, as videos aulas com estatos de “Notória Conferencia” do renomado professor fulano de tal. Roubam-lhe a voz. Ao professor, emprestam-lhe adjetivos muito interessantes do tipo “facilitador” (um termo mais bem comportado, bem mais de acordo com o estado de inanição e timidez em que se encontra este profissional tão importante à comunidade.), enquanto se escondem, pelos cantos sujos e pobres do Brasil, gerações inteiras de imbecilizados, seja pelo torpor das cores, formas e movimentos das “inocentes” programações televisivas (seus carnavais, seus BBBs, seu futebol, a novela das oito etc), seja pelo cruel estado de orfandade de valores éticos e humanísticos por nós herdados de um iluminista qualquer, marcado pela sua sede de dinheiro e poder, bem como pela ridícula e instantânea pressa com que digere e rumina a inteligência e a voz que ousar a declinação e a denúncia. Isto é a modernidade!  
Para se criar condições de lucidez nas abordagens individuais e cotidianas da vida moderna, alguns recursos intelectivos são necessários, tais como o domínio da análise e da critica, a compreensão histórico-filosófica de termos como “Estado”, “Poder”, “Moral”, “Direito”, “Educação” e “Cultura”, pois sem a inserção e maturação de conceitos desta natureza, a linguagem predominante jamais será a que respeita a individualidade humana e a sua relação com um meio saudável, seguro e harmonioso, mesmo que pese aí toda a nossa incompletude de seres racionais.                                       

( Francisco Gutemberg, Julho/2010 )

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