Muito se fala em formação intelectual, técnica e tática, das forças de segurança no tange aos princípios dos direitos humanos, uso de armas não letais, policia de proximidade com a comunidade, isso é imprescindível, de importância inquestionável, contudo algo que está além da esfera de domínio dos agentes de segurança e que deveria ser atacado pela tripartição dos poderes é a sensação de impunidade. Ela impera no seio social principalmente - creio eu - por beneficiar aqueles que criam as normas.
Muitos dos atos de excesso e/ou ilegalidade praticados pelos agentes de segurança, deve-se ao fato deles não confiarem no arcabouço jurídico vigente no país e não ao desconhecimento da lei, da importância das armas não letais ou a falta de preparo dos mesmos.
O policial, que conhece tudo isso, inclusive o valor da vida, talvez seja o cidadão mais vulnerável de todos, ele está exposto 24 horas por dia, seja à necessidade de agir, de proteger sua família, a vida de seu companheiro ou a sua própria vida. Esta figura no centro do alvo cercada, coagida, julgada, pela conjuntura social: cidadão, administração, judiciário e principalmente marginalidade.
Os agentes da base - por mais que ganhem bem menos - ao contrário do alto escalão, não dispõe de viaturas para pegar e deixar em casa, vivem na periferia, dormem e acordam com a criminalidade a porta, vivem em constante ameaça, seja ela explicita ou velada. Encurralados, precisam se impor e quando o fazem passam a ser ainda mais visados. Muitos tiveram suas vidas ceifadas e não haveria arma não letal capaz de impedir a letalidade do ataque que sofreram.
Tenham certeza, que se o agente tivesse a plena convicção de que o traficante, o homicida e inúmeros outros infratores, não fossem soltos pelos diversos recursos legais de forma recorrente e voltassem a perpetrar ações ainda piores, a conduta do policial iria mudar sensivelmente, mas na atual conjuntura ele busca resolver o problema se assenhorando da justiça, papel do Estado, e acaba entrando em um ciclo vicioso de criminalidade.
Recentemente, frente às diversas denúncias de superlotação do sistema carcerário, o Estado abrandou penas para libertar presos e evitar a prisão de outros. Crianças e adolescentes são motivados a praticar crimes porque sabem que no máximo ficarão internados por um período de três anos. Quando a polícia tira um traficante das ruas seus pares lutam entre se para assumir o poder, pois não temem a pena do sistema social. Sendo assim, mil que sejam presos ou mortos, dez mil surgirão para o seus lugares ainda mais destemidos.
Vamos buscar, vamos conhecer, contudo está mais do que na hora abordar outros focos de combate à criminalidade, talvez mais caros e dolorosos, porém capazes de tirar o cidadão de trás das grades que lacram portas e janelas de suas residências.
Jaguaraci Barbosa