Um comentário feito na rede social Facebook por um oficial do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) gerou uma polêmica que repercutiu no Sindjor-MT (Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso) e na OAB-MT (Ordem dos Advogados do Brasil seccional Mato Grosso), e também dividiu opiniões na rede.
A polêmica começou no último dia 20, quando o policial militar Marcos Eduardo Ticianel Paccola postou o seguinte comentário em sua página pessoal: “Luto. Que Deus conforte o coração da família da nosso irmão da farda e já acalente o coração da família dos que fizeram essa atrocidade, porque quando nossas garras tocá-los eles não viverão mais um dia para ver o sol nascer!!! Pra cima deles. Força e honra sempre!”.
Segundo o militar, a postagem foi feita em um momento de fragilidade por conta da morte do também policial Devanilson Gonçalves da Cruz, 21, que atuava na Força Tática da PM e foi morto a tiros no dia 19.
Diante do comentário, a jornalista Lisânia Ghisi, do Jornal A Gazeta, fez uma reportagem relatando o fato. Ela entrou em contato com a corregedoria da Polícia Militar, que informou que irá pedir explicações do oficial.
O comandante do Bope, major Joanildo Assis, também foi entrevistado pela jornalista e disse que o comentário foi feito na página pessoal do policial, e que não reflete a postura do Batalhão.
“Não fujo de meus compromissos e vou responder por isso onde quer que seja, irei por espontânea vontade”
Repercussão na rede
A matéria foi publicada na edição do dia 23 de outubro do jornal, e o capitão Paccola postou a reportagem em sua página pessoal do Facebook, o que gerou grande repercussão na rede social.
Alguns dos amigos de Paccola criticaram, por meio de comentários na página do policial, a reportagem. Alguns mais exaltados chegaram a incitar a violência contra os jornalistas.
Um dos seguidores, capitão Caveira, postou o seguinte comentário: “Eu acho que quando acabarem todos os bandidos do mundo, o próximo passo devem (sic) ser os jornalistas!”
Arrependimento e pedido de desculpas
“Respeito muito o trabalho dos jornalistas e sei da importância da categoria na sociedade”
Em entrevista o MidiaNews, Paccola disse que está arrependido de ter feito o comentário e reconhece que o momento foi inoportuno. Ele também declarou que não imaginava que o ato iria ter tanta repercussão.
O oficial garante que não fez nenhuma ameaça contra Lisânia ou contra qualquer outro jornalista.
“Os comentários agressivos foram feitos por pessoas que viram a postagem e não por mim. Respeito muito o trabalho dos jornalistas e sei da importância da categoria na sociedade. Ocorre que, infelizmente eu não posso controlar outras pessoas. Fui infeliz no comentário e estou muito arrependido. Além de ser um oficial, sou um ser humano”, disse.
Paccola também informou que o comentário lhe causou inúmeros problemas de ordem pessoal, familiar e também profissional.
“Eu fui chamado para prestar esclarecimentos no Comando, isso nunca tinha acontecido. Minha carreira sempre foi exemplar, estudei muito para chegar onde estou e estou sendo julgado por um erro. Não fujo de meus compromissos e vou responder por isso onde quer que seja, irei por espontânea vontade. Só quero que isso acabe”.
Depois da polêmica, Paccola decidiu excluir o seu perfil no Facebook. “Logo que tudo estiver esclarecido, vou fechar essa página. Não quero mais esse tipo de exposição. Eu também quero pedir desculpas a todos que eu machuquei com essa situação, principalmente a jornalista, que estava fazendo o trabalho dela”, disse.
Respeito profissional
A jornalista Lisânia Ghisi disse à reportagem que toda a situação é muito complicada e ela também não imaginou que o fato iria ganhar tamanhas proporções.
“Eu não imaginava que o assunto seria tão repercutido. A situação toda é muito complicada. Mas eu me senti muito acolhida pelo sindicato e pelos colegas de profissão”.
Mesmo com toda a exposição do caso, Lisânia afirma que não se sentiu ameaçada e revela que não teve medo. “Não teve nenhuma ameaça direta para mim, mas para a categoria dos jornalistas. Uma pessoa acabou usando o meu perfil em um comentário, mas não vi isso como uma ameaça”, disse.
Ela declarou não ter mágoas de Paccola e que só quer que o caso seja resolvido da melhor forma. “Não quero que ninguém seja repreendido, espero que tenha uma solução sim. Situações como estas não podem ocorrer. Com certeza eu aceito as desculpas dele, só basta me procurar”.
“Não quero que ninguém seja repreendido, espero que tenha uma solução sim. Situações como estas não podem ocorrer”
Sindjor e OAB
Diante da situação, o Sindjor-MT emitiu uma nota de apoio à jornalista e pediu esclarecimentos por parte da Sesp (Secretaria de Estado de Segurança Pública).
O sindicato também informou que levará o caso ao Fórum de Direitos Humanos e da Terra Mato Grosso, e à representação brasileira da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
A OAB divulgou uma nota pedindo providências urgentes para a defesa da jornalista. Também foi informado que o conselheiro estadual Geandre Bucair já está preparando uma representação criminal para buscar a apuração dos fatos junto ao MPE (Ministério Público Estadual) e à Sesp.
Outro lado
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Polícia Militar, que informou que o Comando Geral da instituição já tomou providências sobre o caso. O militar envolvido já foi ouvido pela corregedoria e foi instruído a não mais comentar sobre o assunto.
Amigos da Caserna